01(Prólogo)

1395 Words
CECÍLIA Sexta — 1° Dezembro   "Não aguento mais, não sei o que fazer com a minha vida." Li mais uma vez o conteúdo do papel que encontrei no meu lugar na aula de Literatura Avançada. Fiquei admirada que mais alguém sentasse ali em outros períodos. O meu lugar era considerado o pior da sala porque o Sr. Jackson sempre ficava na mesa na hora de explicar a matéria e era bem na frente dele que eu sentava. Ele geralmente cuspia enquanto falava. A probabilidade de mais de duas pessoas sentarem naquele mesmo lugar, bem de frente com Sr. Jackson, era quase nula porque as pessoas fugiam mais dele que o d***o foge da cruz. Eu sinto pena dele e das pessoas que são frescas também. Eu não me importava muito porque sabia que era um bom professor mesmo com esse "probleminha". Sou bem compressível com isso, o que ele pode fazer? Deixar de explicar a matéria só porque algumas gotas de saliva estão voando em mim? Óbvio que não, não me importo com saliva. Afinal se eu me importasse não beijaria ninguém. Mas se for avaliar mesmo pode ser nojento. Voltando ao bilhete... "Não se martirize com o que seja lá o que está acontecendo. Tudo vai ficar bem. :)" Foi o que escrevi e coloquei na parte de baixo da mesa, no mesmo lugar onde peguei a bolinha de papel amassada. É provável que a pessoa que escreveu não veja, porém ainda tinha alguma esperança que visse. Gostaria de tentar confortá-la um pouco. Eu não faço a mínima ideia do que a pessoa está passando, nem tem como saber afinal não sei quem é. A julgar pela caligrafia quase desenhada há grandes chances de ser uma garota. Não estou falando que garotos não podem tem uma caligrafia bonita, mas é que isso pode ser bem improvável de acontecer, garotos no geral são desleixados. Opa, acho que sou um garoto então porque minha própria letra é uma grande m***a. Tive que rir do péssimo conceito sobre caligrafia que tive minutos antes, eu só parei de rir quando algumas gotas de saliva chegaram até meu rosto com o meu nome sendo chamado. ***** Sento numa mesa no refeitório com meu lanche na bandeja, enquanto penso no que fazer no fim de tarde. Miami normalmente é quente, mas como é Dezembro (e Inverno) o clima fica um pouco mais frio e mesmo assim ainda é possível pegar bons dias de sol e aproveitar a praia. E é isso que quero fazer hoje. Tomara que Agnes, Ingrid ou Martin queiram ir à praia, estou afim de dar um mergulho no fim de tarde e ver as ondas quebrando da areia. Talvez role um lual, afinal é sexta. Tudo que mais quero é curtir algumas músicas legais em boa companhia, só quero curtir e nada mais. Esquecendo a praia por um tempo, olho para minha badeja com uma fatia de pizza, suco de caixinha e alguns cookies. Ingrid diz que vou ter um ataque cardíaco antes dos 35, mas é só porque ela é toda cheia de dietas. Começo a comer, estou sozinha por enquanto. Meus amigos ainda devem estar na fila, são poucos, se resumem a Martin e Ingrid na escola. Tenho outros amigos fora da escola, só que Agnes Taylor é a mais importante deles, é uma universitária que veio do Texas. No ensino fundamental eu tinha mais amigos da escola, não entendo porque isso mudou. Também não me importo, afinal os que são importantes ficaram. — Uê, Ceci, não está com fome hoje? Ingrid perguntou antes mesmo de sentar na minha frente com a bandeja nas mãos ainda, ela não estava brincando sobre a comida, realmente peguei pouca coisa hoje. O corpo de Ingrid é todo moldado com curvas sob medida na sua pele n***a que brilha lindamente, é de dar inveja em qualquer ser humano. Minha amiga é uma deusa grega com certeza, ela só não deve ter me contado ainda. — Estou tentando manter o peso. — Brinco com minha amiga, ela sorri depois de uma rápida negada com a cabeça. Edwards está no último ano, é minha amiga desde o ano anterior e usa seu corpo de dar inveja no time de torcida. Ela é a melhor só não contem isso para Madelaine Becker, a capitã do time de torcida (acho ela meio louca), ela provavelmente te mandaria preso por algum tipo de "calúnia". — Só se for o peso de uma pena. — Ingrid me acusa quase irritada de verdade. Ela odeia o fato de que eu possa morrer de comer e não engordar. — Se bem que sua b***a deve reter a sua comida toda, não tem explicação. Sorrio com o canudinho do meu suco na boca e dou de ombros. — Não sei, só sei que se me der vontade de comer eu como. — Falo isso quase sempre quando me perguntam se faço algum tipo de dieta fora da escola. Ingrid já mudou o foco e agora me olha maliciosa só porque falei de "comer". — Você não deveria se importar com isso, é bobeira. Eu não dei a******a para Ingrid começar a falar da minha bissexualidade, depois da frase: "se me der vontade de comer eu como". Isso ainda está na cabeça dela, eu a conheço, não que seja um tabu o assunto, não é, não temos assunto que não falamos. Só estou com preguiça de escutar ela falando que nunca beijou uma garota e de que não vai beijar também enquanto estiver no ensino médio porque Madelaine Becker é uma chata e se descobrisse lhe tirava do time e o time é de extrema importância. Falando na garota... Percebo Madelaine passar com outras garotas da torcida, está faltando alguém ali além de Ingrid, só não consigo saber qual das garotas é no momento. — Como assim meus pais pagam impostos para essa escola para não ter pizza quando vou pegar comida? Aí está Martin fingindo ser um garoto mimado, mesmo que ele realmente não tenha uma fatia de pizza na bandeja sei que seu show é falso. — Posso te dar a minha fatia se quiser. — Ingrid oferece assim que o garoto senta ao meu lado. Ela é tipo a nossa mãe aqui, talvez seja porque somos mais novos um ano que ela, então sempre está cuidando de nós como se fôssemos sua prole. — Não precisa. — Gomez ri, ele é quase um bebê gigante (gigante mesmo pois tem 1,88 de altura). — Estou malhando e evitando esse tipo de massa. Ele pisca para Ingrid fingindo ser galanteador, só que uma das garotas da torcida que passava atrás da minha amiga olha para Martin como se ele a estivesse assediando, primeiro ficou possessa e logo em seguida faz uma cara de superioridade. Solto uma risada baixa quando Martin se assusta com a reação da garota e leva as mãos ao rosto envergonhado. Ingrid olha para trás e logo identifica quem é. — Que m***a, Martin. Logo uma das garotas mais chatas do time. — Ela faz drama, parece até que ele cometeu um crime. — Tinha que ser com Liz Rodriguez? — É aquela cheia de não me toque? — Pergunto preocupada porque ela é bem chata pelo que Ingrid diz, é quase do nível da Madelaine. — Sim. Câncer estágio III... — Ingrid começa com sua coisa louca de medicina, ela assiste muito Grey's Anatomy, não julgue ela. — Oh m***a, juro que nunca mais pisco. — Martin sempre exagerado, segue normal. — Nem vou olhar mais para o lado de... Ingrid não deixou Martin terminar a frase e continua seu assunto sobre Liz Rodriguez e câncer: — Ela não demora a chegar no estágio IV, é quando o corpo já está infestado com metástase. — Deixei-a falar, mas de tanto ela falar na tal da metástase eu já sabia o que era, então sabia bem sua explicação. — Metástase é quando o câncer está espalhado pela corrente sanguínea. Perda total. Total. Sabia até da ênfase que ela daria. Então fiquei só curtindo sua frase habitual. Faz parte da diversão do meu dia. — Então Liz Rodriguez pode disputar o posto com Madelaine qualquer dia? — Pergunto como se fosse um segredo, Ingrid sorri para minha brincadeira e logo me responde: — Sim. É bem provável que ela chegue ao estágio VI!
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