Capítulo I

3134 Words
Sabe, às vezes o tempo pode influenciar um pouco em como você se sente em determinado dia ou hora, ou talvez ele só reflita o que a maioria das pessoas estão sentindo, era isso que Daniel pensava, ele sabia que pensar assim era bobagem, mas preferia acreditar que o que sentia naquela manhã quando acordou era culpa do tempo nublado do que admitir a verdade para si mesmo, admitir que chorou no banho por ter tido um pesadelo na noite passada, um pesadelo repleto de lembranças, porém imaginar tudo aquilo como um sonho r**m tornava as coisas um pouco mais fáceis, pelo menos era o que achava, ou se forçava a achar, a verdade é que ele se forçava a acreditar em tantas coisas para fugir da realidade que às vezes não sabia distinguir o que sentia ou pensava de fato. Às vezes Daniel sentia como se estivesse tentando viver uma mentira, como se toda sua vida não fosse sua de verdade, como se devesse estar fazendo outra coisa ao invés de ficar sentado em frente a um computador todos os dias com um headphone preso em sua cabeça atendendo ligações, seu trabalho é um pouco… cansativo? Não, com toda certeza seus colegas que atuam em campo devem se cansar mais do que ele que passava o dia sentado apenas atendendo as ocorrências e repassando para os mesmos, era assim que Daniel procurava pensar todas as vezes que se incomodava com o trabalho, não se sentia no direito de reclamar de cansaço, não quando tudo que fazia era repassar informações, fazendo boletins de ocorrência e relatórios. Haviam alguns momentos do seu dia nos quais achava tudo aquilo muito entediante, mas em outros… bom… em outros era difícil conter suas lembranças. Na noite passada a última ligação que atendeu foi de uma mulher que tinha acabado de ser espancada pelo marido, ouvir aquele relato foi muito desesperador, ela chorava compulsivamente enquanto pedia socorro e dizia que o marido iria matá-la se ninguém fosse a ajudar, ao fundo da ligação dava para se ouvir o choro esganiçado de um bebê, aquele tipo de ocorrência lhe trazia lembranças e isso era uma coisa que odiava com todas as suas forças. Ele odiava se lembrar de um passado que nunca sequer queria que tivesse existido, esse passado que o fazia ter pesadelos e acordar completamente assustado como se estivesse revivendo aqueles momentos que passou nas mãos daquele… monstro? É, era isso, aquele homem era um monstro, nada além disso. Foi aquele passado que incentivou Daniel a escolher um trabalho no departamento de polícia, mesmo que fosse apenas para atender as ligações na central de ocorrências. Ele não queria que outras pessoas passassem pelo mesmo que passou sem receberem nenhum tipo de ajuda como aconteceu consigo, atuar nas ruas em patrulhas ou em algo mais sério não era uma opção para si, odiava ter que pegar em armas, odiava ter que presenciar cenas de violência, isso fazia com que seus pesadelos aumentassem, além disso haviam algumas pessoas perigosas que ainda lembravam de seu rosto, então trabalhar na central de ocorrências já era o suficiente. Assim que chegou ao trabalho, a primeira coisa que Daniel pensou foi em como queria que naquele dia não houvesse outra ligação como a de violência doméstica que recebeu na noite passada, queria ter uma boa noite de sono, ou pelo menos tentar ter quando chegasse em casa. -Bom dia Daniel-Sua colega de trabalho que sentava ao seu lado lhe comprimentou com um sorriso radiante no rosto, ele queria muito que aquele sorriso pudesse lhe contagiar verdadeiramente, mas como todos os outros dias, isso não aconteceu então apenas forçou um de seus clássicos sorrisos falsos que era acostumado a dar todos os dias de sua vida desde que aquela mentira começou. -Bom dia Ana-Falou logo ocupando seu lugar ao lado da mulher. -Hoje é sexta-feira-A mulher falou ainda sorrindo-Tem algum plano pro final de semana?-Ela perguntou um pouco animada, coisa que Daniel não percebeu simplesmente por não reparar. -Não-Respondeu sem nem ao menos olhar para a outra enquanto terminava de ligar o computador e colocar seu fone. -Que tal sairmos juntos então? O pessoal vai em um barzinho perto daqui depois do trabalho e eu pensei que seria legal te convidar pra ir junto-Ana falou finalmente ganhando a atenção de seu colega de trabalho-Talvez possamos conversar, trabalhamos juntos a tanto tempo e eu adoraria te conhecer melhor, você é tão reservado. Daniel olhou a expressão esperançosa que a mulher mantinha no rosto, as bochechas dela estavam um pouco coradas e seu lábio inferior preso entre os dentes, então Daniel finalmente entendeu as reais intenções de Ana, mas ele nunca se envolveria com um colega de trabalho, achava que isso só lhe traria dor de cabeça, que era algo que não precisava, pelo menos não mais do que as que já tinha, afinal quando se mente dia após dia de sua vida o medo de ser descoberto é algo constante, além disso ela não era o tipo de pessoa com quem se envolvia. -Obrigado pelo convite, mas vou ter que recusar, essa semana foi cansativa sabe e também não consegui dormir muito bem ontem a noite, quero descansar quando chegar em casa e dormir na minha cama o máximo que puder-Falou de forma calma forçando mais um sorriso em direção a outra que lhe olhou um pouco cabisbaixa. -Tudo bem, eu entendo-Ana falou com a voz um pouco baixa voltando sua atenção para o computador a sua frente, há meses tentava chamar a atenção do colega, mas suas investidas sempre eram ignoradas. Depois daquilo ambos iniciaram seus trabalhos e o dia prosseguiu como todos os outros. Roubos, brigas de rua, assassinatos, pessoas querendo passar trotes- algo que Daniel odiava - pessoas ligando para reclamar falando o quão incompetente era a polícia naquela cidade, tentativas de assalto m*l sucedidas, mas, felizmente, não tinha atendido nenhuma ocorrência de violência doméstica e aquilo já fazia seu dia ficar um pouco melhor, talvez o tempo estivesse se abrindo aos poucos e o céu estivesse começando a ficar limpo. -Daniel Rossi-Ouviu "seu nome" ser chamado em um tom sério, pelo menos o nome que usava ali, e assim que olhou para quem o chamou viu seu chefe lhe encarando com uma expressão séria no rosto o que lhe fez engolir em seco. Daniel mudaria seu nome para aquele legalmente se pudesse, mas não podia, seu verdadeiro nome era algo que não trazia nada de bom para si, então tinha que andar por aí com documentos falsos e ainda assim trabalhava em uma central de ocorrências policiais, talvez quisesse ser pego, afinal de contas, estando preso ou em liberdade, ele não era um homem livre de verdade. Todos os dias os mesmos pensamentos se apossavam de sua mente: "Será que hoje é o dia que vão me prender?" "Será que hoje alguém irá me reconhecer?" "Por que eu não acabei com minha vida quando tive a chance?". -Algo errado, senhor?-Perguntou um pouco receoso. -Me acompanhe até minha sala, por favor-O homem falou seriamente e sem esperar uma resposta virou as costas e começou a caminhar até sua sala. -Aconteceu alguma coisa?-Ana lhe perguntou olhando-o preocupada. -Não sei, mas é melhor não deixar ele esperando-Falou logo se levantando de seu lugar ouvindo um "boa sorte" da colega e indo na mesma direção que seu superior foi. O caminho até a sala de seu chefe pareceu longo demais, Daniel não conseguia pensar em nada de bom que tivesse levado o homem a lhe chamar até ali, então só lhe restava esperar pelo pior. -Feche a porta por favor-O homem falou assim que ele entrou na sala. Daniel fez o que lhe foi pedido e assim que olhou novamente para o ambiente em que estava percebeu um outro homem sentando em um sofá no lado esquerdo da sala, o desconhecido tinha os braços e as pernas cruzados enquanto mantinha uma postura ereta e uma expressão séria no rosto o que fez um calafrio percorrer por sua espinha, quem era aquele cara? E por que ele estava lhe deixando tão nervoso? Aquilo parecia uma armadilha e sua vontade de fugir era imensa. -Bom senhor Rossi-Seu chefe falou ganhando a atenção dele novamente-Imagino que esteja curioso sobre o porquê de eu ter lhe chamado até aqui. -Sim senhor-Daniel falou desviando o olhar do desconhecido. -Este é o delegado Bernardo Garcia-Seu chefe apresentou o homem que se levantou do sofá e lhe estendeu a mão em comprimento. -Prazer em conhecê-lo-O tal Garcia disse mantendo a expressão séria no rosto, Daniel não queria parecer tão nervoso, mas não conseguia evitar, estava com um mau pressentimento. -Igualmente-Apertou a mão alheia em um comprimento que não demorou muito para ser desfeito. -Sente-se senhor Rossi-Seu chefe apontou para a cadeira em frente a mesa e ele logo tratou de obedecê-lo, enquanto Bernardo voltou ao mesmo lugar onde estava sentado anteriormente-Nós vamos direto ao ponto, temos um trabalho para lhe designar, considere como um tipo de promoção. -Promoção?-Perguntou confuso, não havia se candidatado para nenhuma promoção, sequer queria uma. -Sim, o delegado Garcia está à frente de uma operação que pretende derrubar a gangue Killers Pain e solicitou que eu disponibilizasse um dos meus subordinados para trabalhar como infiltrado dentro da gangue, meus parabéns, você foi o escolhido. -I-Infiltrado? Perdão senhor, mas eu trabalho apenas com o atendimento das ocorrências, nunca estive em campo, não posso trabalhar como infiltrado, iria arruinar a operação antes mesmo de começar, essa ideia não faz sentido nenhum-Falou completamente confuso, por que iriam querer que ele fosse infiltrado em uma operação de combate a uma gangue? Logo ele. -O delegado Garcia me pediu as fichas dos meus subordinados para escolher alguém, e parece que você foi o que melhor se encaixou nos requisitos que ele queria, além disso garanti ao delegado que você sempre foi um profissional exemplar, então não vejo o porque não seria adequado para o trabalho- "Isso é alguma pegadinha? Tem câmeras escondidas aqui?" Era o que Daniel pensava naquele momento enquanto olhava boquiaberto para seu atual chefe. O destino só poderia querer lhe pregar uma peça das grandes, e uma peça bem sem graça diga-se de passagem, não conseguia sequer se imaginar em uma gangue outra vez, que dirá como infiltrado. Nesse momento ele sinceramente preferia que tudo isso fosse um pesadelo. -Com todo respeito senhor, o que falou pode até ser verdade, mas eu não tenho nenhuma experiência prática em campo, além de nunca ter me saído bem nos treinamentos físicos que fiz, vou fracassar antes mesmo de começar. -Senhor Andrade-O Garcia se pronunciou novamente dirigindo a palavra ao chefe do outro homem-Poderia nos dar licença, por favor?-Daniel viu o Andrade assentir e sair da própria sala sem nem ao menos contestar-Vou ser sincero com você-Assim que viu que a conversa entre os outros dois não fluiria para o que queria de fato, Bernardo resolveu intervir-Também não gosto da ideia de mandar alguém sem experiência para uma operação desse porte, mas os membros daquela gangue são muito espertos, conseguiram descobrir todos os infiltrados que mandei para lá e ainda invadiram o sistema da departamento de polícia da minha cidade, não há nenhum policial e informante daquela cidade que não tenha todas as suas informações nas mãos daqueles...-Garcia falou deixando sua raiva transparecer, mas logo tratou de se acalmar-... enfim, como se já não bastasse, descobri recentemente que eles subornaram algumas pessoas tanto para lhes dar cobertura quanto para lhes repassar informações, se não tivéssemos descoberto isso iríamos continuar mandando nosso pessoal e todos continuariam voltando mortos-Mortos? Os infiltrados voltavam mortos e agora queriam lhe mandar para lá? Só podia ser brincadeira-Então eu tive a ideia de mandar alguém que não atue em campo, alguém com o rosto desconhecido por eles e é claro de outra cidade, alguém inexperiente o bastante para não levantar suspeitas de que seja um policial e inteligente o bastante para não ser pego-Falou se levantando e se aproximando do homem-Sabe eu não confio muito em outros delegados e chefes de departamento, mas o Andrade...-Falou se referindo ao chefe do outro e se encostando na mesa de madeira de braços cruzados enquanto fitava seu rosto fixamente, agora mais próximo-... é meu amigo de longa data, então pedi a ele esse favor e ele escolheu você, seus dados serão apagados do sistema, na verdade já foram, Daniel Rossi nunca existiu no departamento de polícia-Daniel teve a impressão de ter ouvido um tom sarcástico quando o outro pronunciou seu nome falso, não, deveria ser só coisa de sua cabeça certo?-Apenas pessoas de minha extrema confiança saberão que coloquei um novo infiltrado na gangue, prometo que farei de tudo que estiver ao meu alcance para que não seja descoberto e para que esteja seguro. -Está falando como se tudo já estivesse decidido, como se eu não tivesse escolha, senhor Garcia-Ele falou estranhando aquilo tudo. -Escute, eu pesquisei sobre você, deve ser difícil certo? Trabalhar todos os dias atendendo ocorrências policiais com algumas delas sendo coisas que você já viu e até mesmo passou, acredito que isso exija muito de você, ter um passado como o seu não é nada fácil-Então sabiam do seu passado-Seu pai foi realmente um homem desprezível. -V-Você… -Você foi esperto ao mudar um pouco sua aparência e o sobrenome-O delegado se debruçou um pouco deixando sua boca rente a orelha do outro-Daniel Neri-Bernardo sussurrou dando ênfase em seu nome verdadeiro e logo em seguida se afastou sorrindo ao ver a cara de espanto do Neri-Mas ficar na mesma cidade foi burrice sua, assim como escolher logo o sobrenome Rossi, que apesar de comum por aqui é o sobrenome de solteira da sua mãe, talvez se tivesse deixado de se chamar Daniel teria sido mais difícil descobrir sua mentira. Ele estava com medo, mas procurava esconder isso de todas as formas, não queria deixar o nome Daniel para trás porque, assim como a escolha do sobrenome Rossi, usar aquele nome lhe fazia se sentir mais "próximo" de sua mãe, pelo menos era essa a ilusão criada em sua cabeça, já que foi ela quem escolheu aquele nome para si, porém aquela não era hora de pensar em sua mãe, era hora de fingir que era alguém forte e que podia encarar aquela situação complicada. -Se sabem do meu passado e que menti deveriam no mínimo me demitir e não me oferecer um trabalho assim-O Neri falou em um tom firme encarando o Garcia, tentando evitar ao máximo demonstrar que as palavras alheias lhe afetaram. -Mas o seu passado é uma vantagem-Vantagem? Onde todo aquele inferno foi vantajoso?-Para ser sincero você foi escolhido justamente por seu passado, seu pai era líder de uma das gangues mais perigosas dessa cidade, você sabe como as coisas funcionam nessas organizações porque cresceu nesse meio, sabe como lidar com membros de gangues porque convivia com eles todos os dias, você é perfeito para esse trabalho, vamos aceite, o salário é ótimo, você pode arcar com todos os seus gastos e ainda sobrará dinheiro, pense em quantas pessoas vai ajudar, os Killers mexem com prostituição, drogas, armas, pense em quantas vidas vai salvar-Sério que Bernardo queria lhe convencer com isso? Tudo bem que entrou no departamento de polícia com a intenção de ajudar as pessoas que passavam pela mesma situação que passou, porém não sentia realmente a necessidade de salvar a vida de alguém, sua vontade de ajudar era uma coisa que fazia mais por si mesmo do que por qualquer um, já a parte do dinheiro... bom, esse até que lhe atraia de uma certa forma-Além do mais nós podemos fazer um acordo. -Acordo? -Sim, afinal você sabe que andar por aí com um sobrenome falso foi a coisa menos ilegal que já fez-O Garcia falou sorrindo discretamente logo em seguida ao ver o olhar assustado de Daniel, havia focado no ponto certo-Aceite o trabalho e eu dou um jeito de limpar seu nome, depois se quiser você poderá trocar de nome oficialmente e viver como Daniel Rossi ou seja lá como quiser ser chamado, você vai ser uma pessoa completamente limpa diante da justiça, vai ser livre-Daniel estava achando tudo aquilo muito estranho, Bernardo sabia muito de sua vida e estava fazendo parecer que realmente não tinha escolha, era aceitar ou aceitar-Mas se você não aceitar, infelizmente terei que cumprir o meu dever e te prender pelos crimes que cometeu no passado-É… realmente não tinha escolha. Porém, além da clara ameaça, o Garcia usou a melhor arma possível para convencer Daniel. Liberdade. É verdade que às vezes se afundava tanto em mentiras que inventava na própria mente para imaginar que seu passado era uma ilusão que em certos momentos se esquecia de que ele era real e dos fantasmas que lhe perseguiam até hoje, vivia com um nome falso, se escondendo em meio aqueles de quem deveria fugir, mas se toda aquela operação desse certo seria um homem verdadeiramente livre. Além disso, também tinha o dinheiro que lhe seria muito útil. Assim que Bernardo viu que Daniel estava pensando na possibilidade de aceitar, percebeu que tinha conseguido o manipular como queria o que o fez sorrir, o escolheu para aquela operação justamente por Daniel ser alguém que podia ser facilmente chantageado por si e esse fato é de extrema importância para o delegado, o Garcia precisava ter tudo sobre controle. -O salário é realmente bom?-Perguntou tentando tirar a atenção do real motivo que estava o levando a aceitar aquilo vendo Bernardo rasgar um dos papéis que estavam na mesa do Andrade e escrever o valor que ganharia caso aceitasse, ou quando assinasse, porque realmente parecia que não tinha escolhas ali, seus olhos até se arregalaram quando o outro lhe entregou o papel e pode ver o valor-Tudo isso? -Sim, o que me diz senhor Neri?-Bernardo perguntou pela última vez vendo ele suspirar-Temos um acordo? Daniel demorou um pouco para aceitar, sua intuição ainda insistia em lhe dizer que havia algo errado ali, que não deveria aceitar aquilo, que não deveria se submeter aquilo tão facilmente, afinal podendo ou não ter seu nome limpo futuramente e podendo ou não usar aquele dinheiro para o que precisava, ainda iria para uma gangue, conviver com membros da mesma e reviver todas as suas lembranças que tanto lutava para afastar, mas ainda assim ele aceitou. O Neri deveria saber melhor do que ninguém que sempre deveria confiar em sua intuição. Agora iria trabalhar como infiltrado em uma gangue perigosa, não tinha experiência em trabalhos de campo e o pior ainda era fraco, sim, Daniel Neri era um fraco e sabia disso, não fisicamente, mas sim mentalmente e aquilo iria se virar contra si mais cedo ou mais tarde em meio a tudo aquilo. Bom, no final das contas, o dia de Daniel terminou exatamente como havia começado, nublado.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD