Prólogo

418 Words
Complexo do Alemão - Rio de Janeiro — Você deveria ter ido pro asfalto, Isadora, assim que acordou! — Mamãe, você parece muito calma! — Nós duas sabemos que ele não volta, você viu. Não há o que se fazer! — Eu consegui avisar em outras situações, poderia evitar. — É o que ele está tentando fazer. — Mamãe, ele sempre foi muito correto com as coisas dele, como pode ser considerado traidor agora? — Eu não sei, Iza… As duas não puderam mais continuar a conversa. O carro de Urubu parou em frente a casa. O dono do morro desceu e Gonçalo, o pai de Isadora, estava ao seu lado. Homens de fuzil m*l encarados desceram junto e foram se posicionando na entrada da casa, na contenção. Izadora achava todos eles patéticos, sempre detestou tudo neles! Em 5 anos que morava na comunidade, odiava aquela prepotência daqueles homens que eram todos chamados por siglas ou apelidos ridículos. Sem contar que tudo que eles conseguiam era através do medo! Urubu era o pior deles. O dono do morro gostava muito de Gonçalo, rapidamente o colocou como seu homem de confiança na contabilidade. Iza não sabia como o pai se sujeitou a esse emprego, pois sua religião não permitia se envolver com coisas erradas, mas foi a única forma que encontraram de sobreviver depois do caos que virou a vida deles e os expulsou do interior. O que o pai ganhava envolvido com a contabilidade do crime na comunidade, permitia que a mãe não precisasse trabalhar fora e pudesse cuidar das crianças. Izadora tinha acabado de completar 18 anos e a ajudava a cuidar dos irmãos: Patrícia de 14, Pedro e Miguel de 10 e Sarah de 6. E naquele momento, Iza agradecia a Deus por seus irmãos estarem todos no asfalto, estudando! Urubu mandou ela ir pro quarto e ficar quietinha, e Iza foi sem nenhuma emoção. Já sabia que seu pai seria executado na frente de sua mãe, o Senhor lhe revelou! Entrou no quarto que dividia com as irmãs, pegou sua Bíblia, se ajoelhou e começou a orar. Deve ter passado cerca de uns 15 minutos, até que os gritos de sua mãe e o lamento de seu pai começaram. Iza tentou não perder a comunhão, mas sabia que nem Jó conseguiria essa paciência! Se levantou e abriu a porta do seu quarto, espiando pela fresta, a tempo de ver o pai ajoelhado e Urubu cravando uma adaga em seu peito, exatamente como ela tinha visto…
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